BOCA-DE-LEÃO II
Você já viu uma pessoa morrer?
Eu já vi flores... E é tanto quanto no sentido.
Então é triste quando se trata da época de ter de retirar as bocas-de-leão do jardim.
Todas as outras ficam lá, não se tem muitas flores, são mais folhagens bonitas, e elas convivem numa paz que chega a virar tolice.
A tolice talvez seja nossa, em imaginar que as flores como elas (coitadinhas e pequeninas) saibam pensar e dizer coisas.
Pode até ser tolice quando e lenda, boato sem comprovação.
Mas a que ponto deve-se tratar quando se vê? Quando se ouve de suas bocas finas e coloridas murmúrios de alegria? Só porque estão vivas... Porque o tempo é curto, e a verdade é de que a morte as espera, não ter terra sob si, mas sobre si.
Passam então a alegria de uma conversa por entre folhas, a ser o lamento conformado de alguém que sabe do fim.
Quanto a nós, nada de mais, porque cremos que a morte é a verdadeira libertação, na hierarquia do bem estar, é o mais alto.
E cremos que são só momentos de insatisfação, elas notarão assim que estiverem no céu das plantinhas, O jardim do éden, onde provavelmente já estão duas violetas nossas, e uma samambaia que fora presente e deixamos se perder.
Espero que todas as outras bocas-de-leão estejam bem lá... Falando assim até me sinto um assassino, mas não matei, apenas cuidei e elas fizeram o resto... Elas são um pouco exibidas, adoram se mostrar. E no fundo estão certas, porque de repente se vão, então começo já deve ter sentimento de último, de “tudo pra valer”!
É tudo tanto mistério, que só com o som da natureza elas já dançam... E a natureza às vezes é meio desafinada...
Mas num tudo e por final, por fanal, espero que tudo esteja bem com todas elas.
Que estejam bem mais coloridas, bem mais vivas, exuberantes e exibidas.
Em suma, que esteja tudo bem com todas, pra não remoerem que não fui bom com elas, pra não duvidarem que foi com bastante carinho.
Douglas Tedesco – 12/2007