Caterine.
Os dias aqui são insalubres,
No inverno os ventos do norte transgridem o tecido fino de nossos casacos, o único que podemos tecer.
Nós, os miseráveis, somos deglutidos pelos ventos impiedosos, o frio, as doenças e a fome.
Mas ao menos Caterine me olha com seus olhos pálidos e vazios quando eu retorno.
E eu danço com seu corpo inerte.
Já estou me acostumando com o odor putrido da morte, as larva ao menos são uma ultima centelha de vida. Me acostumei com seu silêncio, interrompido pelo barulho das moscas.
Minha caterine ainda é tão linda, mesmo desabitada, mesmo com o sangue seco e escurecido nas roupas.
Eu ainda passo sentir (ou inventar?) o calor da sua pele agora gélida, tua textura macia agora pétrea. Seus lábios ainda são doces e suplicantes.
É difícil dizer uma verdade que estou ocultado de mim. Odeio meus olhos por que te viram partir. E minha sanidade que não te podem ressuscitar ainda que num delírio. Não me importa que meu espirito vá descarrilhar.
Eu fui evitando o que era finito, tinha receio das coisas que acabavam logo. Não fazia a barba por que ela crescia depois, nem prometia nada a ninguem. Sobre a vida eu me perguntei também: vale apenas se vai acabar?
Vale apenas se vai acabar?
Vale apena apesar de acabar?
Ou vale apena porque vai acabar?
Não contei a ninguém que ela esta morta. Não, não vou deixar Caterine morrer.