Buscar é Preciso
Pela janela, deitado ao travesseiro, vejo parte da copa da grande mangueira, e bem ali pertinho, a ponta do pequeno abacateiro. Olho pra dentro de mim e me comparo a eles. Sou livre, viajo para onde quero, na hora que me convém. Eles não, estão fincados no chão, dezenas de anos no mesmo lugar. Não fosse a força do vento, seriam imóveis como mortos vivos. Não fosse o brilho do sol e da lua, seriam terrivelmente opacos. Não fossem as águas das chuvas, seriam cobertos pela poeira. São abrigos para as aves nas noites e sombra de descanso nas horas mais quentes. Geram flores para a vida dos insetos e frutos para o sustento de muitos. Do meu travesseiro vejo espelho, não vejo o ânimo necessário no meu rosto, talvez seria menos inquieto se fosse como as árvores, sem os pensamentos teimosos, ávidos por motivos que ali mantenham o meu corpo inerte. As árvores não necessitam de deslocamento, vou fechar a janela e sair para a vida lá fora, vou buscar o que no momento não tenho.