Personalidade limítrofe

Um sangue prateado,

Presente de medulas cinábricas,

Que permeia uma carne fria e irritadiça.

Um coração pesado e tão inerte de mercúrio, que fica muito vazio e venenoso demais.

Um sopro de paixão, o próprio corpo encolhido em solidão, o atrito da própria ausência....

Calor suficiente...

Ínfimo, mas suficiente.

São qualidades prestigiosas de uma existência nublada por vapores cinzentos e densos.

Que se progride numa busca incessante pela estabilidade de outra, talvez tão metálica quanto si própria.

Fria, inerte, mas condutora.

Até que se possa sonhar com um fim, com o vaporizar derradeiro, restando apenas o melhor da união, sempre o outro.

Totalmente o outro.

Infinitamente o outro.

A tão sonhada e impossível existência absoluta de outro ser dentro da própria essência, que a mude e transforme, que deixe menos corrediça, menos volátil e mais completa.

Que a faça ser menos ela própria. Que a deixe com a face do desejo,

Com o cheiro do que deseja.

Mudando tudo que engole e condena, terminando sempre por apenas se consumir em vazio e desaparecer.

Restando o mais maravilhoso de existir assim:

A nulidez e o silêncio da conclusão.

Que, enfim, possa se exterminar, extinguindo-se dentro da amálgama.

Crispim Brancatti
Enviado por Crispim Brancatti em 16/02/2023
Código do texto: T7720412
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.