Personalidade limítrofe
Um sangue prateado,
Presente de medulas cinábricas,
Que permeia uma carne fria e irritadiça.
Um coração pesado e tão inerte de mercúrio, que fica muito vazio e venenoso demais.
Um sopro de paixão, o próprio corpo encolhido em solidão, o atrito da própria ausência....
Calor suficiente...
Ínfimo, mas suficiente.
São qualidades prestigiosas de uma existência nublada por vapores cinzentos e densos.
Que se progride numa busca incessante pela estabilidade de outra, talvez tão metálica quanto si própria.
Fria, inerte, mas condutora.
Até que se possa sonhar com um fim, com o vaporizar derradeiro, restando apenas o melhor da união, sempre o outro.
Totalmente o outro.
Infinitamente o outro.
A tão sonhada e impossível existência absoluta de outro ser dentro da própria essência, que a mude e transforme, que deixe menos corrediça, menos volátil e mais completa.
Que a faça ser menos ela própria. Que a deixe com a face do desejo,
Com o cheiro do que deseja.
Mudando tudo que engole e condena, terminando sempre por apenas se consumir em vazio e desaparecer.
Restando o mais maravilhoso de existir assim:
A nulidez e o silêncio da conclusão.
Que, enfim, possa se exterminar, extinguindo-se dentro da amálgama.