A Arte, e o Novo Tempo( Capítulo 24) continuação
A Mitologia Grega serve como recurso, material simbólico de fundo, para o perscrutar do Si Mesmo, Terra Sagrada no homem, elemento primordial do processo de Individuação.
Não diferente, como numa experiência transcendental de consciência, o jovem no palco estava exposto a ser submetido à iniciação das primícias do alto, à vida transcendental, ao processo de individuação, ao experimento dos símbolos arquetípicos, composto por deuses, guerreiros, e heróis, para o objetivo final do sentido da vida, do propósito, do amor, da guerra, e da espiritualidade. Duma totalidade que o artista vive.
O povo grego antigo, para atuar nos palcos, e na vida, vivia a plasmar-se nos arquétipos da sua cultura.
Dignos de lembrança no exercício da criatividade. As atuações de Hermes, e de Hefesto.
Ambos inventores, trapaceiros, filhos de mãe solteira.
Hefesto, com sua deficiência física, a história de rejeição por parte do pai e da mãe, seu sentimento de vergonha, por ser considerado imperfeito.
O arquétipo hefestiano, com vividez, leva a refletir características da experiência vivida por várias pessoas em seu processo de individuação.
Nele, vê-se o rebelde criativo marginalizado, raivoso e ressentido. Isto não o impede de criar de modo mais simples, e nestes esforços, ele é amparado e sustentado por certos recursos maternais positivos.
Há um esforço por parte de Hefesto, da busca de libertar-se da bagagem histórica, e dos complexos.
Vê o resultado de uma luta bem sucedida para se separar, e individuar-se, com o objetivo de tornar-se com mais plenitude, aquilo que no fundo, ele sempre foi.
A personalidade criativa em Hefesto vê-se consumada. Foi iniciado nos mistérios da criação na matéria, no limite do espaço tridimensional, com a habilidade de parir a arte.
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A luta de Hefesto, é, portanto, uma luta em busca da Essência Divina, análoga a daquele jovem prostrado no palco, quando procura libertar-se da bagagem da história pessoal e coletiva, a fim de tornar-se a personalidade que constitue seu potencial inato.
Jung argumenta que em cada ser tem um Hefesto interno...
" que homem entre nós não carrega as figuras e dilemas de Hefesto?"
Atrás da marginalidade de Hefesto, está a mãe que o abandona, e é dela que ele tem que se libertar para alcançar seu pleno potencial como criador, que foi naquele que, tendo como instrumento de apoio, a bigorna e o martelo, moldava o ferro no fogo, emergindo a arte, criando para os deuses do Olimpo, as mais variadas obras.
Hermes, dotado de um bastão mágico, que vem envolto por duas serpentes, que representam a oposição entre a vida e a morte, o Olimpo, e o inferno, e tornou o seu emblema. Acrescentou a sua cabeça, um chapéu com grandes abas para protegê-lo das chuvas durante as missões, e sandálias com asas, aladas de ouro para transportá-lo na velocidade do vento, foi nomeado por Zeus como o intermediário entre os deuses e os mortais, e tornou o único mensageiro, o guia das almas depois da morte, nomeado pelo deus Ades, senhor do submundo.
Cumpria sua função com esmero, conduzia as almas onde ninguém ousava entrar.
Era veloz, criou o fogo, era o mensageiro dos deuses, do mundo de cima, e de baixo.
Deus dos ladrões, e dos comerciantes, magos e advinhos, ocupou lugar junto a Apolo, deus da beleza, e da arte.
Deveras, o artista do novo tempo, que reflita sobre o lado sombra, a expor seu ser no arquétipo Hermes; falar demais, falar o que não deve, manipulação para fins negativos e egóicos, autoritarismo na comunicação, o malandro, o mentiroso, o que engoda, o que gera guerras e conflitos, que por vezes, tais impulsos na história não tem tido vitória, sem prejuízo para a raça humana.