IMAGINE
Imagine um menino que quase não come. Imagine que esse menino mora num muquifo de pouco reboco na costura de algum barranco. Imagine um menino sem raiz na árvore genealógica. Imagine nesse menino um nome. Gabriel ou outro nome de gente da Bíblia. Imagine que esse menino é o efeito colateral da paisagem de uma grande cidade brasileira. Sua presença desarmoniza as férias perfeitas do cidadão de bens, que está na praia com sua família. Imagine um menino vendendo balas, de calção rasgado, patuá no pescoço e olhos de pessoa idosa. Imagine, na boca da noite um menino deitado em sua cama de papelão. Imagine que ele reza como todo menino. Imagine que ele dorme. Imagine com que milagres ele sonha.