PONTO FINAL
Esta é a carta que eu não te escrevi.
E que agora não tens em mãos e da
qual não sentes a áspera textura nem
aprecias a dor das letras atropeladas umas sobre as outras, dominós de um jogo desfeito.
Nas palavras impronunciadas não antevês o peso do arrependimento nem a nulidade das minhas súplicas.
Nestas linhas para ti inúteis, coloquei um pouco do muito que sinto por não ter sentido o bastante para desviar meu caminho dessa fenda a céu aberto que hoje nos separa.
Hoje não saberás nada disso.
Amanhã não terás ímpetos de me responder de próprio punho com longo texto de repúdio e mágoa.
Amanhã esta carta será forro para a gaveta de meu peito frio.
Amanhã, cada vez mais perto, será um dia a menos riscado no calendário do nosso amor breve e exangue.
Na última linha vai meu nome rasurado e uma data estúpida para constar no arquivo morto de tua alma.