Inesquecível Clarice
Atrevi-me, audaciosa, a conhecer-te
Embriagada das metáforas do teu inconsciente
Me vi, em meio às indagações da tua genialidade Fascinada pela expressividade gritante dos teus escritos
Senti!
E se aprouve o meu olhar ante a tua obra
Tamanha a profundidade do teu sentir
E sentias tanto que vi daqui
Tão sutil nas linhas e entrelinhas
Que você, divinamente, coexistia.
E no emaranhado das tuas palavras
Ora regadas da simplicidade
Ora aparatadas do mais sublime adorno intelectual
Perdida, por vezes, me encontrei em ti
Em muitas das tuas epifanias há tanto de mim
Nos teus romances atemporais
Uma grande dose intimista
De uma mente insaciável e prolixa
Oh, doce Clarice!
Queria eu a sorte de noutro tempo ter existido
E que fosse no teu, tão somente
Quer fosse por um instante em tua companhia
Ou eternizada numa personagem das tuas tramas
Queria eu o deleite de presenciar a tua, inquestionável, maestria Em dar voz às mulheres
Joanas, Luizas, Cristinas e Zildas
Aprisionadas em seus contextos sociais
Tolhidas em imposições tradicionais
A tua sabedoria exalava o cheiro bom da liberdade
E havia sapiência até no teu silêncio
E quem se atreveria a ler o teu olhar?
Tamanha a tua complexidade de ser
Tão eloquente e intensa
Um misto intrigante de Clarice — clareza e mistério
Então, é sabido que vives
Consubstanciada em tuas obras
Há fragmentos, inestimáveis, da tua existência
Imortalizados em cada linha
E tu, Clarice, renasces a cada nova perspectiva
Inesquecível, tal qual a tua obra.