A estrada e o abismo
Ando por uma longa estrada deserta, não há nada ao redor dela. A noite está mais escura do que o normal, sem estrelas, lua encoberta por nuvens espessas, ventos fortes que levam tudo o que tocam.
Enquanto caminho observo tudo ao meu redor, minha cabeça está a todo vapor, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Meu coração está disparado e apertado, como se alguém estivesse esmagando-o com as mãos. Minha respiração está irregular e ofegante pelo esforço de andar. Meus olhos estão cheios de lágrimas presas, embaçando um pouco a minha visão. Meus passos não são rápidos e nem lentos. Na verdade, parece que estou fora do meu corpo, apenas observando a cena como uma telespectadora, mas conscientemente sei que não estou apenas assistindo, mas vivendo a situação.
Quando menos espero, chego ao final da estrada e me surpreendo, pois não há mais para onde ir. No final da estrada só há um grande nada, um abismo imenso e escuro. Jogo uma pedra para ver se consigo ter uma noção da altura, mas não escuto ela chegar ao chão. Parece realmente alto.
Só tenho duas opções: voltar pelo mesmo caminho de antes ou me jogar no abismo. Pondero as duas opções e chego à conclusão de que não quero voltar para o lugar de onde vim, não quero percorrer a mesma estrada novamente, enfrentar os mesmos obstáculos, sentir o mesmo vento e a mesma escuridão.
Escolho me jogar no abismo, afinal, ele é desconhecido. Por mais insano que pareça, é uma experiência nova, não precisarei percorrer o mesmo caminho que me trouxe até aqui, então, sem dúvida é a melhor escolha. Sem pensar duas vezes, caminho bem para a ponta da estrada, com metade dos meus pés para fora e me jogo como se estivesse mergulhando em uma piscina.
'Mergulho' em queda livre, sem me importar com as consequências e com o que haverá no final dele. A sensação que esse pulo me causa é muito boa. Sinto o vento, mas não como o da estrada, é um vento libertador, revigorante. Há lágrimas em meus olhos, mas também são diferentes das que enchiam os meus olhos antes. Meu coração está disparado, mas dessa vez pela expectativa de não saber o que me espera e a respiração está ofegante pelo mesmo motivo. Meu corpo se projeta cada vez mais rápido para baixo e a minha cabeça está focada na sensação que o pulo me causa, nas reações que ele causa em meu corpo.
Quando estou finalmente chegando no final do abismo e o sorriso começa a dominar os meus lábios por estar próxima de descobrir o que me espera, eu acordo e a decepção me invade. Tudo não passou de um sonho. Não há estradas e nem abismos, só eu presa em mim mesma.