Fuga
Será que ainda dá um tempinho assim só, que seja para sonhar? Nem sempre os sonhos se realizam, e a vida traz tantos desafios, onde se procura o chão, que nos foge, e quando se procura sentar-se, se flutua, e sem mais querermos falar sequer, se fica desolado embaixo duma árvore na beira da estrada, sem forças para caminhar, mas com vontade de seguir viagem... a alma sonha, deseja, e acredita sem perder a esperança. Até aonde se pode alcançar, na imaginação, o sonho nos leva e leva... às vezes o sonho se apresenta em preto e branco dum sono inventado, um curto fôlego reaviva, nesse suspiro, na fuga, fingimos que despertamos e trocamos as cores do sonho, dando um toque de doçura com o verde de uma folha, outra amarelada, com o orvalho da manhã depois da chuva, respingos de brisa, apanhamos algumas pétalas caídas, arrumamos uma flor aqui, outra ali, para que elas alegrem os caminhos da vida, introspecto, olhamos para o infinito, e contamos as cores dos tons das nuvens e por trás delas, um raio de sol vai rasgando os céus, e a alma vai querendo abrir as asas, e sentindo-se sem forças, apenas banha-se à sua luz, ensaia um voo, outro voo, mas entristecida, cai.
A alma, antes de tentar voar novamente, ao abrir os olhos se depara com um girassol, ou um Beija-flor, quando mais ao lado, um chão coberto de pétalas caídas de flor de jambo, e nítidamente se ouve o canto dum Bem-te-vi, no alto da cajazeira, e os outros pássaros voam de um lado para o outro, em costumeira festividade, mais acima, lá no alto, uma ave voa sozinha, tão só! Só, como ninguém jamais foi, e com a ave àquela alma se identifica... cada curva que ela dá, um novo olhar invade a alma perdida lá embaixo, e sem querer ela de repente volta à voar, e voa voa sem pensar, sem parar voa até esquecer a sua dor, certamente uma hora dessas ela irá pousar numa nuvem qualquer e por lá deixará a sua tristeza, depois quem sabe consiga descer e reencontre a alegria, ou nem queira mais voltar, continue por aí, com suas vírgulas, e pousos, reticências e pensamentos.