MAIS UMA SOBRE O POR DO SOL
Coisa interessante é como, na correria insana e necessária do cotidiano, não nos atentamos para a simplicidade de um por do sol. Por ser um evento diário e acessível a todos, esse ungido instante que separa o dia da noite acaba tornando-se nada mais do que restos de uma jornada ou, na mais poética hipótese, trapos intermediários para nos distrair, enquanto esperamos a chegada da noite, com seus recreios e sua mansidão, quase um aconchego calmo. Confesso que não sou exatamente um colecionador de momentos ao pôr do sol. Tenho apenas um coração eternamente em crepúsculo. Um coração que sonha com uma humanidade que peregrine ao menos uma vez na vida a uma imaginária montanha, para assistir com calma e sem pretensão de entendimento, ao mais simples pôr do sol. Confesso, e não temo por isso, que sonho em me despedir desta matéria humana no mais exato instante de divisão entre o dia e a noite. No mais exato momento em que se misturam o claro e o escuro, fundem-se as verdades e, por milagre diário do crepúsculo, nascem cheias de vida novas formas de esperança.