A ÚLTIMA VEZ.

Estava ali, diante de mim, seu corpo inerte,

após alguns dias de intenso padecer, incluindo dor imensa, incessante sem diagnóstico inicial

seguido de internação com necessidade de intervenção cirúrgica com recomendação de alguns dias angustiantes

no CTI, onde ainda naquela manhã fui visitá-lo.

Monitorado por aparelhos, e soros correndo com medicação paliativa.

Jeito não mais havia, por isso senti que o fim estava se aproximando.

Ali naquele ambiente fiquei por alguns minutos, balbuciei baixinho a seu lado:

-Pai, melhora logo.

Até hoje não sei se ele ouviu, mas confesso que vi com clareza seus olhos úmidos, sem saber se era dos aparelhos que o mantinham com vida,ou se sua consciência havia estado ali por instantes sentindo minha presença e o som de minha súplica a pedir que ele voltasse pra casa, fazendo escorrer uma lágrima.

Sai dali com um aperto no peito por sentir que pudesse ser um adeus.

Foram momentos de tristeza mas também de fé e resignação sabendo que sua missão na terra estava chegando ao fim.

Por isso rezei baixinho no saguão do Hospital pedindo,

que ele pudesse fazer o melhor, mas que não houvesse sofrimento.

Ele respondeu em pouco tempo aquela silenciosa prece.

Meu pai não retornou para nossa casa, mas sim para a "casa" de Deus.

Quando veio a notícia que ninguém gostaria de ouvir, doeu,

mas ao mesmo tempo entendi que a existência na terra, é apenas uma passagem.

Novamente veio o sentimento da chamada missão que cada um tem ao nascer.

Momentos depois me chamaram para vê-lo.

Fui o primeiro a me aproximar, enquanto outras pessoas que estavam próximas se preocupavam como seria minha reação.

Senti ao olhar seu semblante , sereno, como quem partia, em paz.

Isso me causou uma estranha sensação de que aquele instante era apenas um "até logo".

Tomado de emoção, ainda ouvi ,claramente alguém a meu lado em tom de consolo falar:

-Isso mesmo, meu filho, não chora.

Reza...