LÁ NO INTERIOR DO VALE DO MUCURI

Seu Petrônio, deitado à sombra de uma mangueira, observa as nuvens se movimentarem no céu azul e sob o sol escaldante da hora nona, lá pelos cafundós de Águas Formosas.

Com as pernas cruzadas, botinas fora dos pés e mãos à nuca, chapéu de palha do lado, seu Petrônio observava o tempo naquele espigão do Vale do Mucuri.

As nuvens em dégradée, do branquinho como algodão nas ponteiras, indo ao cinza escuro que se expandia pelos boqueirões dos riachos e restingas do Nordeste mineiro.

Sinal evidente de que a sonhada e necessitada chuva estava aproximando dos montes e colinas das gerais.

Enquanto observava tudo isso, começou a pensar em sua trajetória na fazenda, começou a pensar que passou a vida inteira trabalhando e cuidando de toda extensão da fazenda Paraíso. Um administrador bom e fiel!

Sua esposa, dona Conceição, mulher prendada, conhecida como Mãe Preta pelos filhos do patrão, passava os dias, ora na cozinha sapateando ao redor do fogão, ora batendo roupa na pedra do riacho São João, ora limpando o casarão.

Tudo no aumentativo, menos o padrão de vida. Esse era bom somente para o patrão.

Dona Conceição e seu Petrônio tiveram onze filhos, hoje, avós sabe lá de quantos netos.

Seu Petrônio, não sabia fazer nada em casa, nem ferver água, e com muito pensar, lembrava por nome os filhos que com dona Conceição criou com dificuldades e esperança.

Um determinado dia foi perguntado a ele e à Dona Conceição, o nome dos filhos.

Ele pensou, pensou e começou a elencar a turma para compor o time de futebol.

Contando a partir dos dedos da mão. Pedro, Antônio Honorato, Frederico, Zulmira, Gení, Brasilina, Xavier, João Vianey, José Roberto e Raimundo.

Ao terminar, dona Conceição deu uma chamada:

- E a Maria Aparecida? Nossa filha mais velha!

Ah é mesmo! Respondeu seu Petrônio, é que faz tanto tempo que ela nasceu!

Dona Conceição ficou furiosa, pois esquecer um dos filhos não é uma coisa boa.

Seu Petrônio se levantou, saiu tirando a poeira da bunda da calça com as mãos, colocando o chapéu na cabeça e dizendo: - Os onze filhos deram trabalho para nós criarmos, mas depois que cresceram, deram e continuam dando gosto de ver. Graças a Deus.

No interiorzão é assim!

É isso aí!

Acácio Nunes