SOBRE O MORTO DRUMMOND
Por que temer gente morta se há muito mais pessoas interessantes no mundo dos mortos do que no dos vivos? Carlos Drummond de Andrade, por exemplo. É tido oficialmente como morto desde 1989, mas como respeitar esse tipo de convenção social quando se é poeta? Drummond desrespeita todos os acordos internacionais e universais e me fala todo o tempo, me ensina mais coisas do que qualquer vivo ousasse tentar. Drummond me proporciona novas descobertas, novos atalhos para um mundo, que estava escondido todo o tempo, debaixo do meu nariz. Sua voz ecoa durante meu café da manhã e não deixa hálito de coisa morta, de carne abatida por qualquer tempo. Sua imagem chega até mim sempre renovada, poderosa, sem nenhuma ruga, sem qualquer estado de decomposição. O meu Drummond é um eterno ser, imune a qualquer verme. Não voltará ao pó jamais.