Cinco dias para conhecer você...
A textura desconhecida do toque que trocamos naquela primeira tarde de encontro; um simples aperto de mãos.
A fragilidade de minha existência era sobressalente quando contrastada com a sua; você estava seguro dos passos a tomar, você já tinha interiorizado tudo aquilo que sua vida poderia vir a se tornar.
Não há guias para os caminhos tortuosos de nossas vidas. Você veio, sabendo anteriormente que teria que eventualmente partir. O tempo da separação vital, a solidão fundamental ainda assolava alguma parte de mim. Os dias que se seguiram mudaram algo ao redor de mim, nunca me deixei ser demasiadamente influenciado por você.
Não fazia idéia de que você, do seu jeito meigo e inocente, já sabia de minha auto-imposta solidão; havia partes de mim que eu ainda não conseguia lidar, que eu não podia aceitar. Eu não poderia me aceitar enquanto eu deixava que conceitos que não me cabiam, proferidos por outros, me afetassem.
Cinco dias... gente que vive uma vida em, aparentemente, tão pouco tempo. Vivemos intensamente, desfrutando o gozo da vida como se tivéssemos apenas aqueles dias para viver, apenas cinco míseros dias para viver depois de nascer.
Fomos bebês no primeiro, nos conhecendo através dos toques curiosos que tateavam nossos interiores e exteriores. No segundo, brincamos e brindamos a alegria da ingenuidade e inocência da infância, fomos crianças. O dia foi longo e, quando a noite caiu, relutávamos a ir dormir, por mais cansados que pudéssemos estar. No terceiro, enfrentamos as mudanças forçadas de nossos seres, estávamos na adolescência. Brigamos e nos separamos por termos opiniões divergentes, nos culpando por não termos a capacidade de compreender o mundo que se mostrava diante de nós como algo ameaçador; precisaríamos tomar um partido e crescer, precisávamos nos tornar independentes e sermos capazes de compreender por conta. No quarto, já éramos adultos e, por obra do acaso, nos reencontramos antes de nosso desfecho crucial, estávamos sozinhos, pois nos retiramos para os nossos próprios cantos e trabalhamos em coisas alheias pois não tínhamos conseguido resolver as inquietações da adolescência; elas estavam soterradas nos afazeres diários.
E no quinto, você envelheceu, mas eu voltei a ser criança. Você se mostrou sábio, consistente, entendeu o seu lugar e fez o possível, pouco, mas fundamental, para deixar sua marca invisível no mundo. Você morreu e eu não pude aceitar, como uma criança reinenta, exigi de você algo que não poderia me dar, voltei para a adolescência e me afoguei nos mares turbulentos de minhas inquietações e dúvidas sem fim. Mas não morri, assim como você, eu não consegui.
Porém eu tive esses cinco dias para conhecer você... Não sei o que posso aprender, ainda estou voltado para mim e meus problemas que deixo sem solução propositalmente, mas sei que tenho algo a aprender com você, com tudo aquilo que você me mostrou nesses cinco dias que iniciaram no instante que vi você chegar e terminaram no momento que vi você partir para nunca mais voltar para algum lugar próximo de mim.