Ana Após Ana
Juiz de Fora, 19 de janeiro de 2023
Hoje não foi apenas um dia.
Talvez os dias comecem no momento em que eu desci do ônibus, pela manhã.
Não vou me delongar muito em dizer que havia uma mancha estranha na minha parede
(curioso que meu primeiro conto se chama A Mancha, uma outra mancha, e está fácil de encontrar, o conto).
Temos assim o começo desta carta então.
Talvez o dia comece quando eu decidir pôr fim à Mancha do meu quarto, na parede, incômoda e invisível ao mesmo tempo.
Que eu não lembrava de tirar.
O dia começou comigo, indo para o trabalho, e pegamos um ônibus diferente.
Linha 519 Torreões, que não pega a Rio Branco, mas segue pela Itamar até a Praça da Estação.
Não fazia sentido ir até lá, então não fomos, desci antes.
A Mancha na minha parede era de uma mão de macho mesmo, do passado, com percepções políticas duvidosas.
Ficou marcado aqui na parede com essa mancha de mão suja em cima do computador, sobre a minha mesinha.
Relacionamentos são muito complexos...voltei agora da cozinha e minha amiga havia voltado com a ex, pela milésima vez, e não sei se tem volta.
Mas sempre tem, só depende.
Amores...
Vim para o quarto pensando no meu,
com um Cappuccino no começo do ano,
indo entregar o último trabalho do ano,
De um período que acabou em 20 de janeiro.
Já era fim de tarde.
Pela manhã antes do trabalho, antes de eu ter descido para pegar o ônibus, meu bem deixou um camaleão na minha mesinha, com um lápis fino dentro... Gostei.
Agora coloquei o camaleão no teclado e sentei na cadeira da mesinha. Ele tem uma textura ótima para mão ansiosa, o camaleão.
Lembrei que amo e sou amada,
tomei o Cappuccino,
olhei para cima,
e lembrei de tirar a mancha.
Amar é mesmo uma ótima forma de começar o dia.