ESTRADA DO SOL
Passei por tantas coisas nesta vida
Desde a dor do parto da minha mãe
Numa noite de respingos no telhado
No tremor das trovoadas eu, nasci.
Batizada com o nome de Maria
Pequena, vi a morte na escuridão
Fui benzida pela sábia benzedeira
De ventre caído, quebrante e lesão.
Rezei tantos credos na madrugada
De joelhos roguei tanto por remissão
Vi uma alma penada na penumbra
Sonhei com o destemido lampião.
Olhei o despacho na encruzilhada
Uma galinha preta e vela na cruz
Orei com veneração o Pai-Nosso
E pedi à Virgem Maria proteção.
Sorri com a dor arrochando o peito
Paguei uma promessa na procissão
Lamentei a partida de gente amada
De saudade quase morri de solidão.
Sonhei com amores impossíveis
Adorada por alguém que não amei
Segui por caminhos aventurosos
E a vida muitas vezes desconjurei.
Na estrada do sol iluminada
Tapei a luz com a própria mão
Arrependida dos meus pecados
Para mim, pedi a Deus o perdão.