NA COMPANHIA DA SAUDADE

Acordei naquele dia após ter passado a noite na casa dos meus pais. No primeiro cumprimento, o pedido que me abençoassem. A mesa com pão, queijo, ovos, bolo, e café quente, me mergulha em um D'javu de toda a infância e adolescência.

Decidi dar uma volta na velha cidade. Quis ir só...mas, a saudade se ofereceu pra me acompanhar, pedindo pra deixar por conta dela as apresentações de tudo que meu coração nunca esqueceu.

Passamos na velha "cacimba do lava pés ", onde nos tempos em que calçamento era um sonho de um progresso distante, nos lavavamos a caminho da escola, depois de enfrentar estrada de terra...poeira no verão, lama no inverno. Perder aula nem pensar. Fazíamos de tudo aquilo uma aventura. Honramos o sacrifício dos nossos pais pela nossa educação.

Passamos no velho cemitério, onde descansam conhecidos e desconhecidos, mas, cada um com sua história. Amigos que partiram cedo, outros que dedicaram uma vida longa ao trabalho, a fazer o bem e não ser esquecidos. Amigos que desistiram da vida por não suportarem as dores do mundo. De qualquer forma, todos desejaram a paz que no fim acredito que encontraram.

Passamos na velha Igreja, ao avistar a escadaria, lembro da "carreira" junto com as outras crianças para pedirmos a bênção ao padre que já se foi. Sinos batendo, cheiro de incenso perfumando a atmosfera mística da Missa.

Olhando a cidade do alto, vejo que diante do avanço de tantas mudanças propostas, a essência do lugar ainda resiste...ainda respiramos a boa convivência, o respeito, as tradições, a velha e saudável cultura.

Chegamos à ponte que passa sobre o velho rio...lembrei que ao passar todos os dias com o meu avô na volta da escola, tinha por obrigação jogar uma pedrinha no rio, para ver o movimento das pequenas ondas se abrindo em círculo.

Hoje penso que na verdade, talvez imaginasse ali um tipo de fonte dos desejos, que não exigia dinheiro em troca de um milagre, mas, minha fé, depositada naquela pedrinha, pedindo que minha cidade, meu povo, meu lugar nunca deixasse de ser bom como antes, e que ali sempre pudéssemos chamar de lar.

ANDRÉ L C MELO
Enviado por ANDRÉ L C MELO em 14/01/2023
Reeditado em 14/01/2023
Código do texto: T7695065
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