A serra de Santos

Haverá um dia, em que essas montanhas

Nada me dirão, haverá um dia, em que a mansidão das copas verdes somadas ao horizonte finito em nuvens, nenhuma paz ou tranquilidade trará a minha alma.

Haverá um dia que essa singela cobra d'água não lavará meus pensamentos

No dia que pegar essa serra, pegar o caminho de casa, e não da casa que me tem, mas da casa que escolhi ter, o dia que ao passar por ela e o peso no peito não diminuir, a aflição das existências não cessar, o ruidoso caos das perguntas, que mesmo sem interrogações, enchem minha cabeça, que mesmo respondidas não se contentam com suas respostas, o dia em que diante tal vista, essas não conhecerem o silêncio, e não digo o silêncio que se dá pela certeza das respostas, mas sim da certeza da insignificância do ato de respondê-las.

O dia em que passando por esse caminho, que vendo esta vista, que respirando desse ar, minha alma não se arreglar.

Abandonem-me em canto qualquer

Pois nenhum canto vai me agradar,

Abandonem-me em pedaço de rua, beco ou viela, pois tendo vida, nada nela me fará ressuscitar, Abandonem-me a mim mesma, pois eu mesma esse corpo terei desistido de habitar.

O dia que voltando pra casa eu não puder me sentir em casa ao voltar, é porque nessa terra existe mais nada que eu reconheça como lar.

O dia que esse dia chegar, dia esse que não é hoje, dia que me faz duvidar, que um dia esse dia existirá, pois ele existindo, de mim nada mais restará.

07.11.22