O que sei de ti
Não sei do teu passado
Se outrora viveu ou tão somente existiu
Não sei se foi leve ou pesado fardo, a sua vida
Não sei o quanto foi feliz ou triste
Não sei quantas vezes ficou doente, do corpo ou da mente
Não sei
Não sei das tuas feridas, nem das cicatrizes antigas
Não sei quantas vezes sentiu-se fraco e quantas vezes, o mais forte
Não sei quantas vezes sorriu ou se chorou até sentir-se vazio
Não sei dos sonhos realizados, nem dos quais desistiu
Confesso, sei tão pouco, se é que sei
Talvez eu saiba, agora, apenas o que me cabe na curta jornada contigo
Talvez eu saiba dos teus predicados e dos teus defeitos mais íntimos
Da tua fragilidade despercebida, da tua fortaleza escondida
Dos amores que teve e das duras partidas
Talvez eu saiba, profundamente, do teu doce coração e do teu sabor amargo
Talvez eu saiba das tuas crises existenciais e das tuas certezas indiscutíveis
Da tua fé palpável e por vezes da tua descrença exagerada
Talvez eu conheça muito do teu silêncio intrigante, do teu escandaloso semblante
Talvez eu saiba das tuas oscilações
Das tuas ideias racionais, das tuas utopias
Da tua alma livre, do teu olhar aprisionado
Do fascínio do teu beijo, da sutileza da tua invasão
Talvez o que eu saiba não seja tanto, nem tão pouco
Talvez, o suficiente para preencher algumas das minhas entrelinhas
Não sei ao certo
Talvez eu saiba muito mesmo
Ou apenas, copiosamente, o que é imprescindível ao meu coração.
Ana Carla