A ruiva do caixa, o mar, o rato, e o vizinho amargurado.

Gostar, pra mim

É sempre um esforço abissal

Do não idealizar.

Mesmo que pareça a coisa mais óbvia a se fazer.

Entender que as batidas do coração tem seu tempo,

da mesma forma como o mar,

E Aquela ruiva que falou integral que era melhor, "dependendo da marca é até o mesmo sabor"

Que embalou minhas compras, deu o troco, e disse: "tchau."

Ou o vizinho idoso que grita diariamente, muito alto. Alto de perturbar vizinhos e quem passa na rua. As vezes falando com um eu imaginário,

as vezes perguntando a Deus o motivo de seu destino triste, as vezes maldizendo uma esposa do passado, ou reclamando dos filhos que não o vêem mais.

Ou por fim, o rato que passeia pela casa agorinha enquanto escrevo, que tentei matar, mas sem sucesso.

O que quero dizer é que

Sejam as batidas do coração,

o mar,

a ruiva da caixa registradora,

O rato

Ou até o vizinho amargurado,

Tudo isso

Opera segundo uma lógica.

As vezes uma lógica torta, inacessível, que só faz sentido pra si, vou ter que admitir.

Mas é esse pra mim o grande mistério do entender, do estar vivo.

Saber que cada coisa existe da forma como existe

Mesmo que os motivos pra isso, por vezes,

Estejam soterrados, ofuscados

Saber que estamos aí pra observar e entender

Entender a imutabilidade de certas coisas, e que aceitar que nos escapam, não é motivo de desajeito. Pelo contrário, pacífica.

E que existir ainda é,

sem dúvida nenhuma,

A melhor opção.