CHUVA NO SERTÃO
Era início de janeiro, chovia muito pelas bandas dos Pinheirais.
Os pastos de seu Afonso estavam com muitas ervas daninhas devido o tempo chuvoso e enxarcado.
As araucárias passavam quase o dia todo com suas copas no meio da neblina.
Na mata molhada, perto da morada de Dona Norfa com seu esposo Afonso, apenas cantos de pássaros e ruídos de animais que transitavam por meio à ramagem baixa e que ia gotejando sem parar.
Os animais domésticos se aconchegavam pelas beiras dos telhados das casinhas de guardarem bujigangas e até mesmo debaixo do assoalho do paiol.
A tarde ia caindo, seu Afonso tinha passado o dia todo encorujado em casa, ora brigando com a patroa, ora sentado na taipa do fogão de lenha pitando o costumeiro cigarro de palha, ou dormindo no quarto da sala, escuro devido a janela fechada.
Dona Norfa passava bico nos panos de prato e pensava na vida, pois o tempo estava propício para pensar no passado, olhando ao longe a chuva cair nas montanhas que se avistavam da janela da cozinha de sua casa.
Enquanto seu Afonso estava sentado na taipa do fogão esquentando as canelas nas labaredas que saiam do pau piúca, meio úmido, João Felipe e Inês, netos de dona Norfa e seu Afonso, chegaram meio molhados para fazer-lhes uma visita à casa da vovó Norfa e vovô Qui, como era apelidado pelos netos.
Enchugaram os cabelos e aproximaram do fogão de lenha para se esquentarem.
Vó Norfa, aproveitando a presença dos netos foi logo preparando uns bolinhos de chuva para tomarem um bom café com leite quente.
E o vô Qui batendo papo com o casal de netos, sentado no banquinho de madeira em cima da taipa do fogão meio sujo de cinzas, e com um calor humano imensurável.
Os bolinhos foram saindo, o pó de canela moído por vovô Qui e o açucar meio amarelado sendo lançados por cima dos bolinhos que já estavam sendo devorados.
O fim daquela longíngua tarde estava quentinha dentro da Querência de seu Afonso e dona Norfa lá por aqueles topos de montanhas do bairro dos Pinheirais.
É isso aí!
Acácio Nunes