Nossos antigos tamancos de madeiras
Embora a palavra tamancos tenha sua origem francesa que para nós, brasileiros, possa fazer recordar elegância, delicadeza, nos tempos de antigamente, eles eram, na verdade, os substitutos naturais até mesmo dos sapatos, para as famílias mais humildes.
Certamente, eles chegaram aqui para nossas bandas pelos portugueses, já que nossos povos indígenas deles não precisavam, uma vez que corriam livres pelos campos e florestas naturais.
Para nós - antigos meninos do início do meio do século que já se foi - os tamancos eram algo muito especial, fora os chinelos de couro confeccionados pelos nossos próprios pais ou por algum vizinho e das tradicionais alpargatas, que acolhiam confortavelmente os agitados pés daqueles que não tinham pressa de crescer e que as usavam, para ir à escola, até que suas cordas de sisal se desfizessem ou as unhas rompessem os grossos tecidos que as compunham.
Aqueles tamancos, tradicionais, ficaram no tempo. Já não se ouvem mais seus sons ressoando pelos assoalhos de quem caminha apressado, embora, outros vieram, evoluíram, se tornaram mais delicados e até enfeitam hoje, especialmente, os elegantes pés das nossas belas mulheres.
Aqueles tiveram sua importância, para muitos de nós, que já vimos bom tempo passar. Pois, nos faziam sentir mais altos, seguros, imponentes, embora possuíssem o defeito de nos denunciar quando - na verdade - esperávamos passar despercebidos aos ouvidos de nossos pais, sobretudo quando insistíamos em aproveitar os restos finais das luzes naturais!
Os tamancos de antigamente nos faziam sentir elevados, superiores e limpos, por incrível que pareça, já que os usávamos após lavar os pés, por orientações dos pais. Davam-nos um certo ar de nobreza, não pelas influências de nossos antigos ancestrais portugueses, mas porque, afinal, não estávamos pisando no chão de nossas velhas casas!... Chão de terra batida, de barro concentrado, mas que delimitavam nossos espaços com segurança e, até mesmo, um certo grau de conforto para quem vivia solto, brincando pelos quintais, subindo em árvores, comendo frutas agarrados nos galhos!
Os velhos tamancos ainda proporcionavam aos mais imaginativos – vale lembrar - brincadeiras de piratas! Já que ao usar somente um de seu par mancávamos, produzindo em nossas mentes os barulhos do velho caolho, de espada na mão e de perna de pau!
Caminhando na imaginação, ao iniciar o novo Ano!
02 de janeiro de 2023
José Paulo Ferrari