Hipotermia

Você é anjo que me aponta flecha de caminho,

e eu sigo

Mesmo eu não querendo ir pra lugar nenhum

Mesmo você não tendo mãos

Nem forma

Nem voz

Sigo pois sei que preciso

Sigo porque menti, quero, quero sim

Sigo pois a flor de Papel machê que eu moldei

Vai se desfazer com a chuva que peguei no caminho

Mas assim que chegar

Assim que eu bater na porta lá pras tantas da madrugada

Eu vou pedir licença e desculpa

Com os dentes batendo

E o piso molhando

E então descrever como era linda

E vou me arrepender mesmo

De não ter tentado mais

De não ter protegido mais

Das gotas de chuva-lágrima.

Que fizeram a flor desfazer

E aí vou rezar pra que acredite na minha história

Pra que peça que eu fique

Pois tá perigoso

Pois se eu pegasse uma hipotermia nunca ia se perdoar

Nesse momento meu coração se esquentará

Vai hiperaquecer

Sorrir

Queimar como mil sóis