VAZIO A DOIS
Eu ando tão vazia
Que as palavras me somem da língua
O suor pinga e seca a saliva
Nenhuma droga mais alivia
Eu olho e me vejo sozinha
Eu sinto a minha carne ainda viva
A sangrar e a pulsar por amor
Pelo pão que o diabo amassou
Pela migalha que um pombo deixou
Do pão amassado pelo cão
Que lambeu minha boca no chão
Que acolheu a lágrima que pingou
Pelo sim, que as vezes sai não
Eu ando tão vazia, irmão,
Que se gritar faz eco aqui dentro
Que se sangrar, pressupoe-se veneno
Que se eu calar, os olhos seguem respondendo
Por mim, por fim, por nós eu só queria um dia feliz
O suor que da valor ao meu tempo
Sangue na camisa e se ela chamar eu não atendo
Somos pura alquimia, sem saber o que é real e fantasia
Colori as estrelas nesse céu de giz de cera
Eu juro que fiz o que pudia, eu juro que ninguém melhor faria,
Mas no fim, eu permaneço vazia
e as palavras cortam como faca
As memórias já se tornam opacas
Se eu pudesse dos sentimentos me despia
Se eu pudesse de vazio me cobria
Para ver se aquece o frio da alma
Enquanto lá fora a vida ria
Aqui dentro o peito chora
Enquanto lá fora a chuva caia
Aqui dentro o coração implora
Eu ando tão vazia
Que é melhor eu ir embora.