prepar um prato

Eis que me ocorre, coisa que não controlo, e não gostaria de poder fazê-lo, me ocorre, exatamente agora, sem controle, sem qualquer possibilidade, minha, de poder controlar, a inevitável certeza (às favas , as certezas!) que nesse instante, exato instante, descontrolado instante, de que, para espanto e nova descoberta, que não há muitos pratos que se possam preparar só com celobas.

O preparo de um prato, por mais simples que seja, somente esse ato, de entrega ao tempo de se preparar uma refeição, por sí, e talvez, o mais significativo momento de que se possa dedicar a alguém, isto é, de se prepar o alimento que, em essência, será o responsável pela manutenção da vida. É nesse instanten que, me parece, se dá o descontrole, pois, ao não optar por não fazer nada, quem vai à cozinha e se prepara para esse ato (magnífico ato), penso estar motivada por alguma força que a impulsiona ao balcão de preparo e de lá não consegue sair, até que o alimento esteja pronto para servir.

Escolher, cortar, misturar, temperar, cada passo desse processo, como quem ensina os primeiros passos a uma criança, resulta num preparado destinado àquela pessoa ou pessoas. Igual a criança que se ensina os primeiros passos para uma vida autônomo, cozinhar para alguém significa garantir a vida com o alimento preparado.

Um ato de amor. Cozinhar é um ato de amor; de entrega absoluta ao tempo e a alguém.