DOCES LEMBRANÇAS.
O primeiro carro que eu tive na minha vida foi um fusca 1964. Azul, horrível, mas eu o amava. Não foi papai que me deu não, comprei com meu próprio salário em 1968 parcelado em 24 meses. Imaginem um cara feliz, pois é... era eu do alto dos meus 20 anos.
Na época eu namorava uma menina muita rica, na casa dela só carros importados, e ela feliz fazia questão de sair comigo no meu azulão, imaginem um casal de jovens felizes, pois é... éramos, e muito.
Uma vez o fusca deu para abrir a porta do lado do passageiro quando passava por qualquer depressão na pista.
Na época nós frequentávamos com certa assiduidade uma boite localizada no alto da Ilha Porchat em Santos, se não me falha a memória o nome era Top House. A boite ficava no ponto mais alto da ilha. Uma vista linda a noite de toda a baia, da praia do Itararé até a Ponta da Praia na entrada do porto. E numa dessas noites durante a viagem pela Via Anchieta, a única opção na época para descer a serra. (tinha também a chamada estrada velha, muito perigosa, sem sinalização, ninguém se aventurava principalmente a noite).
A porta do passageiro do fusca começou a abrir sozinha até com o vento, rsrsrsrs não precisava de depressão na pista, e minha princesa foi obrigada a ir fechando a porta durante toda viagem, chegou na Top House com dor no braço, mas sempre felizes, quando se é jovem tudo é motivo para rir, a alegria de viver esta ar.
Depois um gênio de um amigo me deu a dica para eu amarrar um barbante na maçaneta do lado do passageiro, e quando sozinho no carro e a porta abrisse era só puxar. Perfeito. rsrsrsrsrs
Agora escrevendo essas lembranças me veio a memória uma noite estar dançando com ela uma música linda, perdidamente apaixonado. O deck da boite onde ficava a pista de dança avançava sobre o mar, tinha-se uma vista panorâmica maravilhosa de toda a baia, nisso, num facho de luar bem a nossa frente que caia sobre as águas, e eu vi um veleiro atravessando lentamente, ele saiu da escuridão do mar e entrou na linha da luz da lua, ela nos meus braços e aquela visão divina, enquanto viver jamais esquecerei esse momento ao seu lado. Chamei a atenção dela, paramos de dançar e ficamos os dois abraçados, perdidamente apaixonados, olhando o veleiro atravessar o facho da luz do luar, até seguir de novo para a escuridão da noite.
Momentos inesquecíveis que Deus nos presenteia nessa vida.
Revivendo agora essas lembranças a impressão que tenho é que tudo aconteceu ontem a noite, e ainda sinto o perfume da minha linda amada no ar.
Infelizmente nosso amor foi efêmero, tão rápido quanto um veleiro passando no mar sobre um raio de luar numa noite escura.
Deus a chamou e ela se foi, e eu fiquei, e o fusca que nós dois tanto amávamos, de tantas boas lembranças, um dia eu vendi.
A vida seguiu, a vida sempre segue para aqueles que ficam.