Da Partida Que Você Partiu - O Adeus
Era madrugada, eu desejava escrever.
(esse texto foi reescrito mais vezes do que posso contar)
Por onde começo?
Esta já deve ser a minha milésima tentativa.
Estou irrompendo numa tempestade particular.
O bicho que sou é do tipo lunático,
vive num grande arquipélago de escuridões.
Invento sinergias secretas de temperamento táctil;
toda a minha maneira de te amar
esteve bem na palma da minha mão. (esticada)
Para você.
Me perguntei:
o que eu sou para você?
Te ouvi dizer:
você é o meu amor.
Trovejou-me na imensidão
um emaranhado de carícias e selvageria,
náufragos cativos da minha solidão.
Eu bem sabia que iria...
...sucumbir...
Porque era você!
E Eu,
pela primeira vez,
sentia que era ali que deveria estar.
Aprendi a rezar,
mas nunca ouvi oração
tão clara
quanto a que me fala
a voz do coração.
Percorre em mim!
Rasga cascas e mais cascas
de furtivas sobreposições.
Lampejo estridente que me estala!
Ela me fala:
Você sabe do que falo?
Que ímpeto te ocorre?
Quando te fala a essência,
que tremores suscitam no côncavo de tuas paixões?
Eu lhe digo:
É obscuro o que me ocorre.
É violento o que me aflige.
Pensei: será que... contigo também é assim?
Se tu pertencias a esse caos intrínseco,
que conjura vida ao amor e amor pela vida!
Ainda que haja tanta partida!
Me explica!
Como não bendizer que haja tanta vida?
Para se morrer e renascer.
De amor?
Nem sempre...
Muito mais da dor.
Eu poderei dizer:
Conheci meu amor,
e nele eu renasci.
Com todo o meu coração, eu apostei
com toda a minha força, que seríamos felizes...
Eu perdi... enterrei naquela noite
uma parte de mim.
(Chorei muito... na rua, no banheiro público do terminal,
no colo de uma desconhecida, no táxi que me levou pra casa...)
De longe, como quem consola - mais uma vez a voz - eu a ouvi:
" Calma, filha... perder-se também é caminho. Florescerás mais uma vez. "
A vida não termina aqui.
A gente sim.