Soturna

Hoje chorei por Chico Mendes que faria 79 anos,

E pelo jovem iraniano condenado à morte por apoiar mulheres,

E Assange, que a despeito de seu ato heroico, segue prisioneiro

Ainda, o empresário que lucrou sobre a saúde de crianças indígenas,

Notícias de dor, medo e violência, todos os dias, o tempo todo.

Combinam com minha angústia, me aturde ver a aceitação disso tudo e pouca ação.

Dias de dores internas e externas, sem muita certeza de qual é que vem primeiro,

É dia de ficar em casa, muito só, em lutos:

Das frustrações, das perdas, do medo

É dia de revisão, de tentar superar-se e quiça de reencontrar-se.

Logo cedo o coração apertado, o andar trôpego, a disposição retraída para quase tudo, o olhar cinza para quase tudo, uma sensação apartada, no centro do redemoinho, e nenhuma delicadeza.

Melancolia, lágrimas, as músicas mais tocantes, dias arrastados, pensamentos divergentes e em choque e persistentes, ruminantes.

Progressivamente e finalmente, a tarde chega de reboque, o sistema nervoso exige reparação, a autoterapia exibe alguns resultados: exaustão mental, respiração normal, coisas do dia-a-dia voltam a fazer sentido, remendos em execução, mais um passo em algumas decisões antes torturantes.

As dores por tantas injustiças sociais continuam as mesmas. Vigor por achar quem some de fato na luta contra isso continua em elaboração, ainda que já seja tão tarde. E ainda que já seja tarde para tanta coisa, vai se levando, mais uma vez, de volta à tona.