ENTRELINHAS
No primeiro parágrafo do nosso relacionamento,
quando nem título ainda havia,
com cada uma das letrinhas escrevíamos sentimento, muita paixão e alegria.
Era como um poema escrito no caderno de brochura.
Caligrafia bem delineada, texto impecável, sem rasura.
O amor traçado em caixa alta,
O sentimento grafado em negrito
A alma em êxtase, em alfa
Só felicidade, nenhum conflito.
Tudo começava a fazer sentido, não deixávamos uma só linha vazia.
Entre vírgulas, suspiros e beijos havia intensa cumplicidade.
Momentos de carícias e de desejos,
Uma vida toda de felicidade.
Era tão simples e sublime o amar,
As palavras de cada letrinha nasciam.
Mais fácil ainda era o rimar,
Na pele desejos ardentes fluíam.
De repente, um parágrafo, a confiança traída.
A caligrafia já não era do mesmo punho.
Explicações e os dois pontos acentuam a despedida.
Um amontado de letras, um reles rascunho.
Pena, tudo terminou como uma história num texto fatal.
O que restou do início de um parágrafo, entre uma vírgula e
outra é apenas um ponto final.
A página do caderno arrancada com mágoa e rancor.
A folha de papel amassada
selou o findar de um grande amor.