Anjo
Ela não sentia pela metade. Se entregava de corpo e alma a tudo que desejava, sempre se sentia deslocada por ser assim.
As pessoas se assustavam com a sua tempestade de sentimentos, sempre a achavam exagerada demais, intensa demais, imprudente demais.
Ela se questionava com constância: qual o problema em sentir? Não sabia responder.
Tentava afogar seus sentimentos, mas ora ou outra eles acabavam transbordando, levando junto o que estivesse pela frente, como uma enchente.
Ela queria ser e viver como nunca, queria aproveitar cada segundo e demonstrar o que sentia, mas sempre se tornava um problema. As pessoas não estão acostumadas com tanta espontaneidade, não estão acostumadas com a verdade, preferem relações fracas e superficiais.
Ela acreditava que era melhor ser assim do que abafar o que sentia, pois no momento certo, alguém a entenderia.
Foi vivendo dia após dia, quando um lindo anjo apareceu, incentivando a continuar a sua busca, a não aceitar menos do que merecia.
Esse anjo tinha uma forma única de ver o mundo, com tamanha sensibilidade e honestidade que cada vez mais a envolvia.
Seu dom era enxergar além do que os olhos podem ver. A cada palavra trocada, a paixão e admiração só cresciam e a ânsia de tê-lo por perto chegava a ser dolorida.
Ele sempre a lembrava que ninguém pertence a ninguém, era também no que acreditava. Nada melhor do que ter alguém que podendo ir embora, queira ficar.
Só tinha um, porém, muito longe ele morava, as palavras eram a única forma de conexão, talvez a mais forte que poderia existir. Ver ele bem se tornou primordial, pois a dor dele se tornava a dela também.
Não conseguia entender por que tanto tempo demorou para se conhecerem, por que tão longe esse anjo morava? Em menos de 10 minutos de conversa já estava apaixonada.