Ela tinha 20 e tantos anos
Ela tinha 20 e tantos anos e ainda não sabia quem era.
Foi ensinada a nunca dizer 'não', a sempre agradar todos a sua volta. Não tinha espaço para falhas, tinha que ser a perfeição.
Com a família, na escola, na faculdade, com os amigos, na igreja e no trabalho. Era vista como a certinha, ninguém esperava nada além da perfeição e da disponibilização integral dela.
A cada 'sim' dito sem querer, um pedaço dela morria. A cada erro que cometia, parecia que o mundo estava desabando.
Conforme foi crescendo, foi se perdendo cada vez mais dentro de si e a frustração a consumindo.
Se sentia vazia, deprimida, incapaz. Nada era capaz de fazê-la se sentir viva e completa. Quanto mais agradava aos outros, menos ela se conhecia, menos ela vivia e nunca era suficiente, todos queriam cada vez mais dela.
Começou a morrer lentamente... Tão lentamente que a pressa e frustração começou a consumi-la. Ela tinha pressa, queria agora.
Um dia resolveu, em meio a frustração da lentidão, dizer 'não' e uma sensação de rebeldia a consumiu. Era como se algo dentro dela reagisse, como um remédio para a inevitável e lenta morte que a levava pouco a pouco.
Foi atrás de descobrir quem era. Demonstrar que tinha vontades e também poderia cometer erros.
A sua volta as pessoas não mais a reconheciam e isso começou a servir de alimento para ela.
Começou a conhecer as suas vontades e impor limites. Entendeu que quanto mais vivia para agradar, menos ela agradava a si própria. Entendeu que por mais perfeita que tentasse ser, era impossível, pois somos humanos e cometemos falhas (e precisamos cometê-las mesmo!). Entendeu que por mais que fizesse nunca seria o suficiente, cada vez mais iriam esperar dela. Parou de viver para agradar aos outros, mas sim para se agradar.