Fractal
Tatear de novo o escuro a procura da beleza no caos, daquela pedaço minúsculo de perfeição. Fazer dessa ação a razão talvez para expor o mais sensível, apenas talvez, porque nunca há certeza. Abrir mão da visão para reescrever a estética do que provoca o sentidos e talvez chegar a conclusão que não é a maciez, mas sim, a aspereza do arrepio no encontro dos corpos, dos pêlos arredios promovido pela estática dos sentidos que se busca. Pois é nela, na esperteza, que se vê a vida sofrida do ser, os caminhos dolorosos da vida e as marcas das mil tentativas de ser feliz, como uma partitura de Tom Jobim ao descrever a felicidade como uma pluma que o vento leva pelo ar na imprecisão da direção o desejo de não parar... E na imprecisão encontrar o gozo do que faz pulsar e transformar o gelado desespero em algo que aquece os ossos e da liga aos abraços. Perder a visão para dar valor ao gosto salgado que emana do suor da pele de quem se deseja. Tocar com os dedos os lábios e fazer viver na memória o sorriso que encanta enquanto o som dos risos convertem em gemidos e invadem os ouvidos. A memória alucina e dá ao imaginário a visão que o manto do escuro levou. Realmente, é doce a beleza do caos para quem não o teme. E, para aquele que o teme, aquele mais reles mortal sabedor de suas fragilidades e absurdamente teimoso em dispor seus sentidos no escuro, que o fractal, o pedaço da teimosia que flerta com a beleza do caos, cause deslumbre. Apesar dos pesares do devir, esse é o momento do eterno...