Eu, um mero pensador?!...
Qual proveito humanitário poderia advir do mero pensar, pensar, até quase os neurônios queimarem pensar, mas nenhuma atitude natural ou eficaz jamais tomar em prol de alguém que necessite de nossa ajuda, mesmo que isso seja apenas circunstancial?
E quase assim foi...
Realmente, parece-me que foi ontem ainda...
E eu ali, sentado na minha cadeirinha de jardim
Sob aquele acariciante sol de inverno...
Pensava, pensava, e mais ainda pensava.
Refletia sobre os milhões e milhões e milhões
( quem sabe até mais...)
De seres humanos à beira da miséria ao redor do planeta!
Certamente pessoinhas indefesas em relação a tudo
Que possa representar riscos a sua dignidade humana...
Pessoinhas assim tão desalentadas!
A ponto de nem mais se encorajarem
Sequer a se comunicar com alguém e pedir ajuda...
Então não pude me furtar de concluir
Que alguma atitude precisava ser tomada
Com urgência urgentíssima...
Alguém de muito poder ou fortuna carecia de se compadecer imediatamente de tais pessoinhas sofredoras!
Alguém sim, mas quem?
Será que eu mesmo poderia vir a ser útil a elas de alguma maneira,
enquanto ali permanecesse confortavelmente sentado na minha cadeirinha de jardim debaixo daquele acariciante sol de inverno?
Eu mesmo, debilmente, começava já a entender que não podia aceitar simplesmente ficar ali na minha cadeirinha a pensar, pensar e mais ainda pensar...
Quase já me afogando em minhas vãs boas intenções, comecei a sentir desconfortáveis comichões!
Comichões que não eram provocados pelas ágeis e produtivas formiguinhas do meu florido jardim...
Quando mais triste ainda é saber que bilhões de seres resfolegantes também estão vivendo uma vida melhor, e poderiam estar assim como eu, apenas e tão somente pensando, pensando, sem tomar nenhuma atitude eficaz para ajudar a resolver tamanha delicada situação de risco a própria humanidade daquelas sofridas pessoinhas.
Pensar, pensar, pensar e tão somente lamentar a má sorte alheia,
sem tomar uma atitude sequer para aliviar seu sofrimento...
...Ou ao menos tentar ajudar alguém a se reerguer, mesmo sofrivelmente, para uma vida melhor?
Foi então que alguém balbuciou algumas palavras em frente ao meu portão:
- Será que o senhor pode me ajudar com qualquer coisinha, pelo amor de Deus?
Imaginem que atitude eu deveria tomar, justo naquele momento em que eu tanto pensava nas milhões e milhões de pessoinhas passando fome ao redor do planeta...
Será que aquela judiada pessoinha, em sofrível situação de rua, seria uma delas vindo até mim? Então elas não estavam apenas lá nos confins do mundo, como a televisão me fazia crer, mas estavam ali em carne e ossos, mais ossos que carne, tadinhos, também na frente do meu portão?...
Enquanto o sinhozinho se afastava um naquinho mais aliviado no seu alongado sofrimento, lembrei que alguém já afirmou que o céu deve estar superlotado de gente que passou a vida inteira quase se afogando num mar de boas intenções, sem nada fazer concretamente para minorar ao menos momentaneamente as misérias dos que nada têm...
...Ou seria um outro lugar, beeeeeem mais quente que o céu, que estaria assim, apinhado de gente bem-intencionada?!?
Pensemos (?) nisso...
Armeniz Müller.
...Oarrazoadorpoético.