Hiatos

Hoje nem os versos suprem

caminho errante não sei pra onde

Não sou de lugar algum

Não vou a lugar nenhum

Tropeço em meus sonhos espalhados

quebrados, envelhecidos.

Vejo tanta escuridão envolvendo meus passos,

que o poema serve-me de laço, um incauto que não sacia mais meu espírito apático.

Sinto meus olhos arderem,

a pele enrugar o sorriso já tão ausente

meus ossos envelhecem junto com meus pensamentos pueris.

Conto meus dias sem prazeres, repetidas vezes,

faço e desfaço, como a sola velha dos meus sapatos,

Tornei-me um amontoado de sentimentos plastificados, nas gavetas do tempo à espera de algum milagre, de algum sinal que venha ao meu encontro, vivendo a espera de algo, que sempre adia sua vinda.

Estou tão cansada de reagir que nada mais sinto, a não ser uma enorme vontade de sucumbir, de fazer cessar meus excessos de um amanhã que nunca existiu.

Hoje eu não sinto nada, sou tomada por uma letargia sem fim...sou composta de tantas ausências, que nem a poesia pode me suprir.

Eu me esqueci de como existir, pairo inerte diante de mim mesma, sem saber em que momento neste tempo eu me perdi.

Talvez eu nunca mais encontre

Talvez a poesia de uma vez se perca, nessa dormência que envolve meus dias...

Hoje nem o grito gutural sobreviveu, nesse corpo frio esvaneceu, e a poesia e suas rimas, por medo de mim, sumiu, se escondeu.