Jovem Aprendiz
Todas as formas que posso dizer o que sinto são abstratas. O alto borbulha em fervo todas as possibilidades do seu afeto não me alcançar. O hoje não é importante, quando o ontem já me avisava que o amanhã seria assim. Teu hálito doce e gélido nunca passa despercebido pelo meu coração em chamas, e assim, sua indiferença foi marcando pouco a pouco minha pele em brasa. Nosso adeus foi há muito tempo, enquanto eu saboreava teus lábios nos meus, enquanto eu tecia o nosso futuro, enquanto eu te dava tudo que em mim morava. Era tudo teu, tudo de mim em você.
Quando o nada fazia parte da sua vida, eu corria para o seu encontro com o tudo que eu tinha. Agora você foi embora com todas as minhas coisas e as suas novas conquistas. Isso não me parece justo, amor, isso é justo para você?
Desde quando você não sabe me amar? Desde quando desumanizou teu espírito ao ponto de usar teus compromissos como razões para não se entregar ao nosso bucólico e lascivo amor?
Meu corpo se esfarelou em seus braços e você soprou. Eu voo para longe.
Eu era apenas o armário que guardava o seu casaco, fez frio e você o pegou. Meus ganchos ficam no ar.
Eu era apenas uma promessa que você não conseguiu cumprir. O amor não é um juramento.
Eu era apenas a pedra no sapato, você tirou e foi dançar.
Agora, descalça, danço sozinha no meu quarto. Um pra cá, um pra lá.