O BORDEJO DA PALAVRA
Quando o desejo de ser e estar é fundo, cria-se a materialização do amar no que estiver ao alcance da cuca, dos olhos, dos ouvidos, nem sempre ao alcance da mão, tão usada pra tudo o que é comum, usual, utilitário.
De uma cativante expressão lírica, voz inquieta, insegura, os versos são tipicamente frutos do momento da inspiração: esta surpresa que não se sabe de onde vem e que é o primeiro instante da criação literária.
Neste momento, tudo é impalpável. Caminha-se na senda da imaterialidade. Voeja-se no sonho, porque no cerne do poema é que somos materialidade.
Ali a criatura humana reconstrói a vida. Mitiga suas circunstâncias. E se faz verdade profunda no mergulho inusitado, intempestivo, no bordejar da palavra batida pelos ventos. Depois, como tudo que não é tangível, é o Nada.
Bem, mas este Nada pode ter nome, rosto, braços, pernas, e vir a ser o cajado que suporta o dia seguinte. Pode até se chamar Esperança!
— Abre-te, Sésamo, à vida em que te escondes!
– Do livro EU MENINO GRANDE, 2006 / 2008.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/764602