Será o fim?
Meus versos estão mudos
Fecharam-se, em algum canto
Estão sufocados, fuscos
Obtusos, estranhos, confusos
Sob densa névoa, recusam-se fluir
Quisera eu fugir para os confins do mundo
Fingir que não me importo em ver tudo ruir
Abstrair e esperar o momento oportuno
Mas impossível não sentir
Um clamor que vem de muitas vozes
Meus versos aguardam, encolhem
Choram pelo abismo que tenta os engolir
Afunilam-se num escasso e provável futuro
Contemplam a cegueira intelectual de tantos
Nessa nova realidade de faz de conta
O ontem nunca houve, dislexia das massas
O passado já não serve mais de lição
Repetem-se escolhas erradas
Numa amnésia desenfreada
Tapam ouvidos, olhos e bocas
Como é possível endossar falácias tolas
Poder corrupto que criou raízes
Comendo carnes, impondo limites
Como é possível a doce poesia,
Sobreviver a falsas diretrizes
Manter-se de pé sobre esta pilha
de tantos ossos amontoados
prelúdio da loucura, desfaçatez
respirar por sobre cadáveres amordaçados
Se a mentira permanecer, e se o poder
que emana das multidões se abater
Meus versos serão enclausurados
Meu grito será uma afronta
E meu legado será enterrado...
Num reino usurpado, comprado
Embriagado de lisonjas
Onde o direito de tantos foi sentenciado
Meus versos não serão manchados
Pela sujeira de um comunismo disfarçado