MINHA INCELENÇA
Quando Eu morrer
Não precisam me enterrar na lapinha
Nem precisa de calça culote, paletó, almofadinha
Quando Eu morrer
Podem me enterrar em Éden, nos jardins do Éden
Lá pras bandas de São João.
De São João de Meriti
E quando se confirmar com certeza
Minha falta de vida, por favor
Minhas vísceras que sejam doadas
para quem precisar ou para os aspirantes em medicina
Mas, por favor:
Me enterrem nú, completamente nú
Assim como vim ao mundo quero retornar
Não preciso de nenhuma mortalha
Quando Eu morrer
Me coloquem completamente nú na urna
Podem me cobrir de flores de todas as cores
Podem florir um arco-iris no meu corpo
As flores ficaram tatuadas no meu perispírito
Quando Eu morrer
Por favor me enterrem nú
Para que calça e paletó passados e engomados?
Para que calça culote, paletó e almofadinha?
Quando Eu morrer
Me enterrem nú por favor
Quero facilitar os trabalhos
dos tanotoplaxistas e vermes
Que a incelença, seja breve
Para as flores não murcharem antes do tempo
As rosas deverão cobrir meu pequeno falo
As carpideiras ao perceberem minha nudez
Ficarão desconcentradas no Pai Nosso.
Talvez, ficarão de olhos arregalados e pensarão:
Nossa, que pau!
Algumas surpresas, outras decepcionadas
Quando Eu morrer
Me enterrem nú, completamente nú
Os presentes ao perceberem minha nudez
Talvez, algumas senhoras e senhoritas
Não irão sair do lado do caixão
Alguns homens querendo conter os risos
E na curiosidade poderão pensar:
Será maior ou menor do que o meu?
(Os homens e o falocentrismo bobo)
Quando Eu morrer
Na minha incelença, alguns falarão bem de mim
Outros pensarão mal mas irão mentir
Irão falar muito bem do defunto
Do morimbundo, do defunto morto.
Quando Eu morrer
Me enterrem nú completamente
Quem diria...o cara tímido e acatado
Agora inerte, morto totalmente
Mortinho da Silva
Cerra os olhos, fechando a cortina
Ainda deseja arregalar os olhos da platéia
Ainda quer ESCANDALIZAR
Quando Eu morrer
Irei ao inferno procurar o Nelson Rodrigues
E perguntar: Por que toda nudez será castigada?
Se eu me sentir envergonhado, plasmarei uma parreira
E, cobrirei minha genitália desnuda.
Que assim seja!