AQUELA PICADA

Aquela picada foi o abrir de um universo finito, mas finito em extensão, pois a dor causada por aquela picada é de um berro ensurdecedor. Poucas picadas abalam meu ser, a primeira ocorreu num verão desconhecido, onde as águas tímidas abalsamavam a dor, em serenos contidos e fugidios; dor gritante, mas ténue na sua reprodução. A segunda picada nunca ocorreu, de facto, foi apenas imaginária, em momentos de pensar o ilusório, o futuro que em nossas mãos se esvai como tempo. A última picada não difere tanto da primeira, mas é mais próxima da segunda. São, se assim as posso julgar, como gémeos siameses, improváveis de vê-los separados. Das três picadas, a primeira é a mais recente. Pois ainda sinto, presentemente, as lágrimas pimentais que ela me proporciona. Lágrimas desliquidadas, que jorram sentimentos devassos. Sou assim, sensível às picadas. Mas não a qualquer picada. Picadas, sim, que me atordoam a alma e os pensamentos. Picadas sem dor física. Picadas de enterrrar a face na vergonha da paixão. Picadas trêmulas no seu interior. Picadas e picadas . Sou fã, apesar de tudo, dessas picadas, que me deixam desconsertado, sem saber como prosseguir.

Educético
Enviado por Educético em 31/10/2022
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