Versão anterior
Voltar a caminhar pelas ruas que uma outra versão de você caminhou, com pessoas que conhecem apenas aquela antiga versão, pode ser desafiador - especialmente quando essas ruas são de uma cidade de interior, onde, aparentemente, todos conhecem todos. E então vem aquele tipo, diferente, mas igual. Deve ser filha de fulana. É a cara da mãe. Avaliação instantânea se está gorda, magra, feia, bonita, bem de vida ou sofrida. Quando se caminha por essas ruas, antigas em seu coração, no interior do mundo, você encontra a vizinha bem informada, o padre, o prefeito, a micro sociedade local que insiste em julgar quem por esses ares respire. Acontece que depois de um tempo - e distância - a sua versão atual usa outras lentes e já não se importa com essa avaliação de quem passa uma vida sem reavaliar as próprias lentes. Contudo, sabe o checklist que acompanha cada olhar. Nesse momento, encontrar amigos dessa sua antiga versão é um bálsamo, um afeto que se renova. Sua versão anterior passara tardes inteiras conversando com a versão antiga daquele corpo que está diante de ti. Porém, a distância do tempo entre as versões que se veem tornam o encontro breve. Misturam-se uma intimidade antiga e um desconforto do atual desconhecido.