Sonhei que tocava violino
Há muito tempo meu espírito de artista se guardou num lugar sombrio e esquecido, gelado. A poesia já estava morta, a luz e as cores das tintas já não mais me davam esperança, afinal, eu havia me perdido em um mar de fantasias românticas.
Usei a venda e acorrentei, eu mesma, os meus pés. A arte ia saindo de forma dolorosa do meu corpo, como se algo estivesse sendo expulso violentamente. Me senti desconfortável na escuridão, mas lá havia algo que me prendia e me seduzia, mesmo que aquilo abrisse, aos poucos, o meu peito com um machado.
Meu peito se abriu, doía. Mas assim mesmo, resolvi curá-lo e entregar novamente o meu coração, arriscando-me a falhar de novo.
Falhei.
Do meu peito foi arrancado o bem mais precioso que o mundo considera que uma pessoa possa ter: o coração.
O predador, lentamente, vai sugando a alma suculenta da sua presa e, quando já a deixa sem vida, seca, cinza e sem brilho, vai embora em busca de outras almas coloridas.