Desmomentos
Nunca foi tão fácil dizer eu te amo
De três em "tres palabras"
De Almodóvar a Caetano.
Um silêncio que parece parado, mas pra mim é cinético, profano.
Estar com você é sempre um "não momento."
Uma metafísica de coisas doces do por vir. O ar se adensa, as sinapses eriçam, tentam achar a coisa certa, tentam não fazer fiasco.
Mas aí quando eu saio na rua, quando dou um sorriso amarelo pro moço da venda, ele me passa o troco do pão, do leite e do sonho. Pergunta se eu não vou querer levar bolo, eu digo não, obrigado.
Entre uma coisa e outra...
fico querendo não voltar, pois sei que quando abrir a porta, chegar com o pão, o leite e com o sonho que tu diz que ainda vai me dar uma diabete, e que aí você quem vai ter que levar em médico e dizer um sonoro "eu avisei". Eu sei que vou fazer cara de bravo, sei que você vai rir, se aproximando rasteira, me cheirando no ombro, vai me dar um beijo, comer um pedaço do doce. Eu vou responder dizendo um "Agora quer, né?" Rindo de volta
Quando tudo isso acontecer.
Eu vou lembrar que nunca aconteceu.
Que você nunca esteve lá, pra começo de conversa. Vou lembrar que ainda falta meia hora pra aula acabar, vou fazer uma pergunta qualquer pro professor, e voltar pro meu desatento, pro sonho.
Amo os desmomentos que você me trás.
Um eterno gerúndio.
Que vai indo, vai acontecendo
Nunca acaba, nunca começa.