A BORBOLETA  AZUL - ÁLVARO ALVES DE FARIA

 

 

 

        Há pouco uma borboleta azul voava com dificuldade pelo meu quintal. Dei um jeito de levá-la até ao jardim, até que pousou no galho de um pinheiro que tenho aqui, que plantei pequenininho, que agora está alto, grande.

        Cheguei-me a ela e vi que estava com as asas molhadas, e por isso voava com dificuldade.

       Perguntei-lhe se queria que eu lhe secasse as asas. Não quis, disse-me que as asas molhadas fazem parte de sua vida, de seu universo, de sua natureza. Molhou-se na chuva da noite.

         Insisti... Disse que não. - As asas devem secar sozinhas.

         Ponderei que poderia demorar; disse também que temia por ela, se chovesse mais.

       Explicou-me, então, que é assim mesmo, a chuva, suas asas, o galho da árvore em que está agora. Disse-me que as coisas são como são, nem sempre são como desejamos.

 

         Agora está lá, na árvore, trêmula. Uma borboleta grande. Já fui vê-la algumas vezes.

        Pediu-me que não me preocupasse com ela, mas, eu me preocupo, ela pode até morrer. Eu não quero que morra a borboleta que voou hoje no meu quintal, molhada de chuva.

         Está lá, na árvore, esperando que a natureza se faça, que a natureza caminhe por ela mesma.

         Uma borboleta de palavras suaves, que só os bichos têm. 

 

 

 


 

 

 

Nota. Este texto também está no Áudio, na página 1.