Cena de uma tarde perdida no tempo
Havia uma alegria sublimada na moldura daquela janela. Sir. McCartney cantava reencontros com a dor, as feridas abriam o esquecimento coagulado em âmbar e blueberry, a saudade sorria . Um feixe espesso de luz pousava no relógio de pulso na mesa de cabeceira, ao lado do Livro do Desassossego, " se o coração pudesse pensar...", pensou o tempo e depois perdeu-se. O sol se fazia mínimo naquele coração incômodo, mas era ainda a re-existência daquele cômodo. No entanto, o calor era intenso no âmago do quarto, o amor disfarçado de cacto na sacada para re-existir ao deserto humanitário, estava de braços abertos, mas com espinhos. Os cupins do cotidiano corroíam o auto-retrato idealizado, a memória estava cansada daquelas paredes, daquele rosto, ela queria ser imaginação, como a janela, queria se mover parada nas fantasias daqueles olhos que a fitavam. A casa queria inventar outro eu.