Professorar

𝓟𝓻𝓸𝓯𝓮𝓼𝓼𝓸𝓻𝓪𝓻

Professorava Língua Portuguesa e Ciências Físicas e Biológicas. Nunca falou sobre política, mas deu as melhores aulas sobre o assunto. Nunca falou sobre Ditadura, mas mostrava que o Bullying, palavra que nem se usava, era o poder da minoria mais forte, quanto a maioria mais fraca, exatamente porque suas vítimas não entendem que os agressores e os depredadores parecem muitos e até gritam mais alto, mas são poucos. E sendo eles poucos, se suas vítimas ou o povo se unirem, poderão destruir e mudar tudo.

Professorava com carinho, mesmo que entre seus quarenta alunos eu fosse a única não repetente, ela ensinava com cuidado redobrado, como se eu ainda nem soubesse ler ou escrever. Era carinhosa, apesar de nunca sorrir e seu reinado, porque sim, era rainha, era na Escola Professor Sebastião Faria Zimbres.

Maria Helena. Era esse o seu nome. Vivia para cima e para baixo com a afilhada, que a amava e olhava para ele com carinho e gratidão. Para nós, seus alunos, eram a senhora, a que nos ensinava a ler, escrever, contar histórias e se divertir com as palavras. Foi ela que me ensinou me esconder na Biblioteca. Dizia que os idiotas não lêem. E ela estava certa, Os analfabetos funcionais estão aí para provar isso.

Professorava, entre uma saída e outra da sala, horas que ela ia para outras salas acalmar alunos irresponsáveis e professores inaptos. Por que sei? Porque era levada de cima para baixo para não apanhar dos maiores, que seguindo ordem de outros "adultos' achavam graça me fazer chorar.

Fui transferida de escola no ano seguinte. Nem lembro para que escola fui. Só sei que lá ela não estava para me ensinar caligrafia, etimologia e redação. Foram poucos meses com ela, que me resgatou de uma surra de réguas que outra professora ia me dar porque eu respondi certo uma questão. Mas esses poucos meses serviram para moldar um pouquinho de meu caráter.

Obrigada, professora!