ZÉ DA BODEGA I - ALIENAÇÃO
Zé da Bodega, o Filósofo das Verdades Não Ditas, escanchado em riba de uma cangáia, logo após ter balançado duma bochecha pra outra, uma brejeira de fumo e lançado uma gosma amarronzada a um metro de distância, arregaça:
_ Canaiada, oceis são um bando de alienados!!!
O pessoá, ao seu redó, num intendeu nada.
_ São, sim, confirmô Zé da Bodega. O avô de oceis, o pai de oceis diziam: vão estudá pra sê gente, arranjá um trabaio, ter uma famia... Mal sabia, o pai de oceis, qui os patrão adoram essa fala de escravizado.
Continua Zé da Bodega: _ Sêos alienados, oceis não se pertencem. Oceis são gado marcado, pertencem aos patrão. Oceis brigam cum patrão, pedi as conta e quando é no outro dia estão novamente bateno na porta dos patrão pedino emprego, pedino para ser escravizado...
_ Oceis precisam deixar de ser alienados, de pertencer aos patrões, filosofa Zé da Bodega.
Zé da Bodega se alevanta da cangáia, abre os braços, retesa o corpo e solta o verbo:
_ A canaiada ainda acredita que através do voto se livra da escravidão...