Meus cabelos brancos!
Meus cabelos brancos me dizem desaforos diariamente.
Principalmente quando acordam mal humorados.
Eles sempre foram rebeldes, mas andam bem nervosos ultimamente.
Deram para aparecer onde não são chamados...
E quando tento expulsá-los, se unem para me mostrar
que têm legitimidade para marcar território...
Num desafio notório, se soltam do coque ou do rabo de cavalo,
para simplesmente se exibir... Se destacar!
Balançam ao sabor do vento... Da mais leve brisa...
Acho até que se divertem descaradamente!
Talvez, porque sabem que me afrontam!
Ah! Meus cabelos brancos!
Desde sempre me aprontam!
Mexem com a minha autoestima ofendendo-me a vaidade,
quando esfregam em meus olhos o avanço da idade.
Mas vejo que já está mais do que na hora de aceitá-los!
Ando até pensando em assumi-los finalmente.
Quero aprender daqui para frente a respeitar
esse processo de envelhecimento.
Afinal, eu já vivi o suficiente para entender que o decesso é inevitavelmente natural.
E que todos iremos passar por esse momento...
Sei que até os cabelos envelhecem, branqueiam e iridescem
para nos dizer, categoricamente, que tudo em nós é mortal...
E nesse ciclo de perecimento nos avisam que o tempo está passando...
E com o outono da vida chegando, todas as cores suavizam...
Inclusive as minhas!
Começando pelas fogosas madeixas da fronte a esbranquiçar...
antes num tom de castanho puro, forte, farto e escuro
a luzir e cintilar...
Ah! Meus cabelos brancos!
Companheiros do futuro!
Doravante eu lhes asseguro
que vou guardar as minhas queixas e, enfim,
nos libertar!
Adriribeiro/@adri.poesias
Prosa poética: Meus cabelos brancos - Adriana Ribeiro, publicada na 2ª Edição da Revista Danda - Agosto/ 2022