FELICIDADE

Acordo bem mais cedo. Aprendi que coar o café para quem amamos é como ferver o pó da nossa dor varrida e retirar dela o líquido gostoso da superação. Deito pão sobre a mesa, frito ovos, coloco a manteiga ao lado das duas xícaras de cor safira. Quando tudo está pronto, desperto o meu amor com um beijo respeitoso na testa e canto alguma infantilidade de deleitosa lembrança das fazendinhas dos contos de fadas. Meu bem se levanta, abre as janelas e joga farinha de milho para as rolinhas que lhes esperam no teto de amianto da casa vizinha. Debaixo do teto daquela casa impera o ódio, mas sobre a sorte dos céus... a delicadeza flutua saciada. Abro um pedaço da cortina para ver-lhe sorrindo e cantando o mesmo gruir das aves. A sua alegria simplória reveste o meu coração com um yellow velvet incrível. A sensibilidade dos dias comuns passeia na nossa casa com toda pompa de primavera. Os amantes do império tocam-se como jardineiros que despetalam tulipas. O que se chama amor perde-se na propriedade do inefável.

Italo Samuel Wyatt
Enviado por Italo Samuel Wyatt em 27/09/2022
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