[Naquela Hora da Tarde]

[Memórias de Itumbiara – GO]

Naquela hora vermelha,

as portas desceram

sobre os cansaços,

sobre as cobiças,

sobre a ânsia de enricar,

sobre as esperanças,

sejam quais forem —

é a régua passada

na conta feita do dia!

Restou a rua vazia,

de onde o calor se exaure

no banho frio da luz

do lento entardecer.

Nas pedras da rua,

agora as aves pousam,

sem o susto do movimento,

a procurar alimento entre as fendas.

Da Praça da Bandeira,

só eu vejo o fundo desta hora;

para os demais, é apenas hora perdida,

hora de ganhos cessantes

ou de estancamento de perdas;

não importa — é só o tempo

de rearme para a luta!

Para mim, ah... para mim,

que contemplo o saltitar das aves,

esta hora é perdida sim,

mas perdida para sempre,

pois o relógio é um mentiroso:

esta hora de hoje não se repete

ainda que os ponteiros

estejam na mesma posição!

Da praça, em agonia e calma,

o meu olhar passeia

pelas portas fechadas,

pelas pedras da rua,

pelos saltos das aves,

pela sombras que avançam

sobre a luz que morre...

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[Penas do Desterro, 08 de abril de 1999]